Leite creme
As entradas não me fascinaram. Os croquetes estavam bons mas... eram croquetes, não sei até que ponto são um petisco com margem de manobra para grandes invenções, e a salada de beterraba era fresquinha e light mas só me sabia a terra, que é ao que me sabe sempre a beterraba, quer seja no Pedro e o Lobo, no Eleven ou no restaurante da tia Amélia aqui ao lado de casa.
Os pratos principais foram uma boa surpresa. Não sei qual foi o peixe que me serviram, chamarem-lhe peixe do Atlântico não me diz nada, é o mesmo que me dizerem que é peixe do mar... há todo um mundo de possibilidades. Porém, estava muito bom e mesmo no ponto! A maior parte das vezes os peixes ficam assim meio espapaçados e moles mas este estava bem rijinho, uma delícia. Fiquei mesmo fascinada com o raio do peixe! Acho que nunca tinha comido um tão bem cozinhado. O prato de carne esteve perto de uma experiência orgásmica. O pato estava bem tenrinho, derretia-se na boca, e fiquei rendida àquele puré de castanhas meio adocicado. Sei que misturar comida salgada com o doce da fruta é uma moda que agrada a muita boa gente, mas eu torço o nariz a essas coisas. Acho sempre o doce da fruta demasiado forte e que anula o sabor da carne ou do peixe. Mas esta maneira mais discreta de misturar o doce com o salgado, através do puré de castanhas ou de batata doce, por exemplo, ou de molhos adocicados, convencem-me em três tempos.
Nunca tinha comido tarte merengada, mas desde que vi um desgraçado no MasterChef Portugal a arruinar, por várias vezes, esse doce é só disso que me consigo lembrar, do ar desolado dele e olhar para aquela coisa toda torta e a derreter por todos os lados. Provei-a pela primeira vez neste jantar e não achei que fosse uma sobremesa memorável. A parte doce era muito boa, mas não gostei da acidez do limão. Aliás, nem achei o doce assim tão doce para ser rematado com o mais amargo dos citrinos.
Confesso que assim que me sentei à mesa aquilo que mais queria provar era o leite creme que, para mim, é a sobremesa das sobremesas. Se me querem ver feliz é porem-me leite creme à frente. Mas leite creme a sério! Não é cá farinha maizena com açúcar queimado por cima que eu sei logo ver a diferença. Já me aconteceu ir a restaurantes onde perguntei se o leite creme era caseiro e a resposta ser um "sim!" muito ofendido, mas depois porem-me à frente uma tigela com um creme muito amarelo... vejo logo que me estão a endrominar. E já chegaram ao cúmulo de me responderem "É feito aqui dentro por isso, sim, é caseiro" com um sorriso idiota. Quem responde isto a um cliente está mesmo a pedir para ser despedido com justa causa. Vêem como isto é um assunto sensível para mim? Não me estraguem o leite creme, p'lamor de Deus!! Mas voltando ao Pedro e o Lobo: num sítio destes essa questão nem se põe. Tudo tem a obrigação de ser caseiro, tudo! Desde as batatas fritas ao leite creme. E era. Era caseirinho e também era uma delícia! O meu estômago bateu palminhas de contente. Gostei especialmente da grossa camada de açúcar queimado na hora. Até me partiu o coração ter de desfazer aquele trabalho tão bonito.
Fiquei muito satisfeita com o jantar. As doses não são enormes, também não estava à espera que me pusessem um tacho em cima da mesa, mas satisfazem perfeitamente os estômagos mais exigentes. E o espaço é giríssimo, com a madeira, o metal e o cimento como materiais de destaque. Se ainda não fizeram a vossa marcação apressem-se. Esta edição da Restaurant Week termina já no próximo domingo.