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Há uns anos soube que queria ser mãe. Acho que foi uma coisa que aconteceu assim de repente, num dia não pensava nisso e, sem que nada o fizesse prever, no dia seguinte comecei a maturar a ideia - será que é isto o relógio biológico? - Quero ter a oportunidade e o privilégio de educar alguém com os valores que acredito serem os correctos. É um desafio, provavelmente muitas vezes mal sucedido, mas acima de tudo um privilégio. Com o passar do tempo comecei a desenvolver um interesse crescente pelas questões da parentalidade - e não usei a palavra 'maternidade' de propósito -, desde a amamentação, esse assunto tão polémico!, a questões comportamentais dos miúdos - as birras, as noites a caminho da cama dos pais, a escola, as dificuldades de aprendizagem, etc. Numa das minhas leituras acabei por ir dar a este post interessantíssimo; um texto escrito por uma rapariga de 23 anos sobre as 25 coisas que os pais devem fazer quanto têm uma filha. E quando digo pais refiro-me exclusivamente aos homens. Estas são algumas coisas que ela menciona no artigo:
- Não influencies nem assumas quais são os gostos dela só porque é uma rapariga. Não lhe mostres apenas flores e bonecas. Dá-lhe a conhecer também carros e Legos.
- Trata a mãe dela como igual e não como se fosse inferior a ti. Quando crescer vai querer que a tratem da mesma maneira.
- Mostra-lhe o teu lado sensível. Assim vai perceber que também pode sê-lo sem ver isso como uma fraqueza.
- Faz um esforço para entenderes os interesses dela. Vais ensiná-la que, sejam eles quais forem, são interessantes e têm valor.
- Se não o dirias a um filho, não o digas à tua filha.
- Não fales das mudanças que se passam no corpo dela como se fossem coisas estranhas. Isso só fará com que ela sinta vergonha do próprio corpo.
- Não objectifiques o corpo das outras mulheres nem faças comentários degradantes acerca disso. Ela ouve o que dizes e vai, certamente, olhar para ela à luz desses comentários.
- Não fales apenas de homens importantes, fala também de mulheres fortes e com papeis importantes na sociedade. Ela vai crescer sabendo que isso é a regra, e não a excepção, e que tem essa oportunidade.
- Ensina-a que ela é a única pessoa que decide o que acontece com o corpo dela
Este artigo fascinou-me porque, apesar de falar de coisas que, idealmente, fariam parte do senso comum de qualquer pai, toca também num ponto crucial e que, provavelmente, as pessoas não entendem ou não valorizam: a forma como os pais/homens educam as filhas e a forma como se comportam pode mudar o mundo para as mulheres. Não só para aquela que estão a ver crescer mas para todas as outras que se vão cruzar na vida dela e que ela própria, um dia, pode vir a educar. Depende muito deles, dos pais, dos homens que as educam, a forma como elas se vêem a elas próprias e como interpretam o que as rodeia. Parem de dizer aquela parvoíce "assim que ela me aparecer com um rapaz em casa recebo-o com uma espingarda". Não. Errado. Se não confiam no julgamento que ela faz das pessoas, então alguma coisa falhou na educação que lhe deram. Se derem o exemplo não têm nada a temer. Se tratarem as mulheres, especialmente a mãe dela, com respeito, se forem carinhosos e elogiarem frequentemente não só a mãe mas a própria filha, se derem o exemplo, elas vão querer alguém igual ou melhor. Mas se, por acaso, ela se enganar esqueçam a espingarda. Basta estarem lá para ela quando as coisas correrem mal. Não só é mais realista como é bastante mais útil. E se tiverem dificuldades em conter-se nesses comentários sexistas sigam-se por aquela simples regra: se não o diriam a um rapaz, não o digam a uma rapariga. Usando novamente o mesmo exemplo, nunca ouvi um pai de um rapaz dizer "assim que ele me aparecer com uma miúda cá em casa recebo-a com uma espingarda". Nunca. Provavelmente escolhem outro tipo de comentários idiotas e igualmente sexistas. Portanto, se não o diriam aos filhos, não o digam às filhas e vice-versa. É um óptimo primeiro passo para educar aquela pessoa para a igualdade. Os pais - e agora por 'pais' refiro-me aos dois, ao pai e à mãe - não são a única influência na vida dos filhos e é por isso que têm de ser a melhor.
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